Sophie é 1ª vítima de tragédia anunciada na Santa Casa de Campo Grande

Campo Grande Cidades

Dois dias antes de criança chegar ao hospital, Santa Casa disse que as condições atuais não garantiam atendimento seguro e adequado

Eles deixaram ela sofrer, até não aguentar mais“. Extremamente abalada, um dia após enterrar a filha de 5 anos, Maria Aparecida Viana Pio ainda não consegue digerir a última semana, mas conversou com o Jornal Midiamax. De um acidente doméstico ao enterro, foram quatro dias de angústia e desespero entre ida e vinda da Santa Casa de Campo Grande.

A pequena Sophie Emanuelle Viana, 5, brincava no último domingo (25), quando foi atingida pelo portão de sua casa, no Jardim Aeroporto. A família correu para a Upa mais perto, onde a menina foi atendida e encaminhada para a Santa Casa, com urgência, por ter histórico de cardiopatia.

Na Santa Casa passou por raio-x e observação, até que Maria Aparecida ouviu da médica “não tem fratura, não tem nada, ela está melhor que eu“. Aliviada, a família retornou de casa, até tudo mudar na manhã de segunda-feira (26).

O ferimento na cabeça de Sophie começou a sangrar e seu olho passou a ficar inchado. Ela teve febre alta, vômito e com medo de convulsão, retornaram direto para a Santa Casa. Na tomografia, foi constatada uma fratura e leve sangramento na cabeça da menina, mas segundo a mãe, o médico disse não ser grave.

A situação foi se agravando com o passar das horas e preocupando a mãe que vivenciou o sofrimento da filha pequena. Na terça-feira (27), Sophie já não conseguia enxergar por conta do inchaço nos olhos.

“Eu falei para as enfermeiras, moça, está muito inchado o olho dela. Será que o médico não vai vir agora olhar? Ela falou assim, mas é normal por conta da pancada. E ficou nesse normal”, conta a mãe.

Mãe e tia de Sophie (Foto: Madu Livramento/ Jornal Midiamax)

Últimas horas de vida e sofrimento

Dentro da Santa Casa, Sophie não largou a mão da mãe em nenhum momento. Mas com o passar das horas, o agravamento da situação e sofrimento da criança, começaram a ficar insustentáveis.

Na quinta-feira (28), o estado de saúde dela piorou e o sangramento na cabeça passou a ficar mais intenso. “Por volta das cinco e pouquinho da manhã, ela acordou e falou para mim assim, mãe, está escorrendo. Eu falei, o que está escorrendo filhinha? Eu levantei acendi de luz do quarto e olhei. Estava com muito, eu não sei dizer se era sangue, o que era. Estava saindo muito que a toalha que estava embaixo da cabeça dela estava completamente encharcada”, relata a mãe de Sophie.

No período da tarde o pescoço da menina já estava todo inchado e ela não conseguia mais falar. Foi só aí que outra médica orientou a levar, com urgência, a criança para ala de emergência.

“Por volta das 18h40 foi que Sophie subiu para ala de emergência e pouco tempo depois o médico avisou que ela teve uma parada cardíaca, mas conseguiram reanimar. O problema é que seu quadro já era grave neste momento e o coração funcionava por conta da medicação“, contou a mãe.

Shopie chegou a ir para cirurgia, mas não resistiu a uma segunda parada cardíaca e morreu, por volta das 21h de quinta-feira (29). “Todo mundo tem família. Então, não é só a pessoa que vai partir, que sofreu ali. Tem a família que fica, que vai estar enlutada para sempre”, disse Vailza Costa Viana, tia de Sophie.

Portão onde acidente aconteceu (Foto: Madu Livramento/ Jornal Midiamax)

Desassistência era anunciada

No dia 24 de março de 2025, a Santa Casa de Campo Grande emitiu uma nota à imprensa relatando superlotação do pronto-socorro e, um ofício, pedindo a suspensão do recebimento de novos pacientes. Na época, relatou grave desabastecimento, atendimento acima da capacidade máxima e sem possibilidade de novas admissões.

O ofício foi encaminhado às autoridades municipais de saúde e a Justiça. Mas não foi o único. Desde então, os comunicados da Santa Casa sobre a situação se tornaram frequentes. Ainda em março, médicos da ortopedia foram à polícia dizendo que não haviam insumos para cirurgias e 70 pacientes corriam risco de morte ou sequelas graves.

Até que exatos dois meses depois (23 de maio), o maior hospital de Mato Grosso do Sul emitiu outro ofício, comunicando o bloqueio do pronto-socorro adulto e infantil. Na nota, afirma que “devido às restrições físicas, tornou-se impossível manter condições mínimas para o atendimento adequado“.

A Santa Casa admitiu que diante do cenário e apesar dos esforços conjunto, “as condições atuais não garantem um atendimento seguro e adequado“. Sophie chegou ao hospital, pela primeira vez, dois dias após esse último anúncio e morreu na última quinta-feira (29).

santa casa lotação
Lotação no Pronto-Socorro do hospital (Divulgação, Santa Casa)

O que diz a Santa Casa?

Em nota sobre o caso emitido neste domingo (1°), Santa Casa afirma que está reavaliando as condutas adotadas durante o atendimento de Sophie Emanuelle Viana. A família acusa o hospital de negligência e responsabiliza a equipe médica pela morte.

Santa Casa de Campo Grande informa que está acompanhando o caso desde o momento do óbito, prestando solidariedade à família pela imensa perda. Todas as condutas e decisões adotadas estão sendo avaliadas e reavaliadas internamente“.

A prefeitura de Campo Grande foi acionada para se manifestar sobre o caso e o espaço segue aberto ao posicionamento.

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Fonte: midiamax.uol.com.br